O calor intenso não impacta apenas a circulação, a pressão arterial ou a hidratação do corpo. Ele também interfere diretamente no funcionamento do cérebro. Durante os dias mais quentes, é comum que alguns sinais neurológicos apareçam pela primeira vez ou que sintomas já existentes se tornem mais intensos.
Segundo o neurocirurgião Dr. Orlando Maia, do Hospital Quali Ipanema, isso acontece porque o organismo precisa trabalhar de forma mais intensa para manter a temperatura interna estável. Esse esforço desencadeia uma série de adaptações fisiológicas que afetam o equilíbrio da pressão arterial, a oxigenação cerebral e a condução elétrica dos neurônios.
“Quando o corpo está submetido ao calor, o cérebro passa a operar em um estado de maior vulnerabilidade. Por isso, sintomas que antes eram leves ou quase imperceptíveis podem se manifestar com mais clareza no verão”, explica o médico.
Por que o calor afeta o cérebro?
O primeiro deles é o aumento da temperatura corporal. Com a elevação da temperatura, os neurônios tornam-se mais sensíveis e o funcionamento elétrico do cérebro pode ficar menos estável, favorecendo alterações neurológicas.
Outro fator importante é a desidratação. A perda de líquidos reduz o volume de sangue circulante, comprometendo o transporte adequado de oxigênio e nutrientes para o cérebro. Esse efeito é ainda mais significativo em idosos e em pessoas com doenças crônicas, que já apresentam menor reserva fisiológica.
Há também a oscilação da pressão arterial. O calor provoca dilatação dos vasos sanguíneos e o organismo tenta compensar essa mudança. No entanto, nem sempre essa adaptação é eficiente, o que pode levar tanto a quedas acentuadas quanto a elevações súbitas da pressão. Essa instabilidade interfere diretamente na perfusão cerebral.
Além disso, ocorre um aumento da demanda metabólica. O corpo gasta mais energia para tentar se resfriar. “Em algumas pessoas, esse aumento do gasto energético pode desencadear sintomas neurológicos ou agravar condições já existentes”, explica Dr. Orlando Maia.
Quais sinais neurológicos tendem a aparecer ou piorar no calor?
Entre os sintomas mais frequentes observados em períodos de altas temperaturas estão a tontura e a sensação de desmaio, geralmente relacionadas à queda da pressão arterial e à desidratação.
A dor de cabeça também costuma se tornar mais frequente ou intensa. O calor altera a circulação cerebral e aumenta a sensibilidade dos vasos sanguíneos, favorecendo crises de cefaleia.
Outro sinal comum é a confusão mental leve, que pode se manifestar como dificuldade de concentração, lentidão no raciocínio e sensação de “mente embaralhada”. Esses sintomas indicam que o cérebro está sofrendo com o estresse térmico e a falta de líquidos.
A fadiga intensa também merece atenção. A perda acelerada de eletrólitos interfere no funcionamento neuromuscular e no metabolismo cerebral, gerando cansaço desproporcional ao esforço realizado.
Há ainda relatos de formigamento e dormência em braços, pernas ou face. “A instabilidade da pressão arterial pode causar lapsos transitórios de perfusão em determinadas regiões do corpo. É um sinal que precisa ser observado com cuidado”, alerta o médico.
Calor pode piorar doenças neurológicas pré-existentes?
Sim. Pacientes que já convivem com condições neurológicas tendem a perceber agravamento dos sintomas durante o verão.
“Pessoas com enxaqueca, doenças desmielinizantes, sequelas de AVC ou doenças neurodegenerativas podem notar aumento da frequência ou da intensidade dos sintomas. Isso acontece porque o calor exige mais do sistema nervoso”, explica Dr. Orlando Maia.
Quando os sintomas podem indicar algo mais grave?
Embora muitos sinais estejam relacionados ao calor, alguns sintomas exigem avaliação médica imediata, independentemente da temperatura ambiente:
- Fala embolada
- Perda de força em um lado do corpo
- Desorientação
- Alteração visual súbita
- Dor de cabeça muito intensa e diferente do habitual
- Tontura incapacitante
- Episódios repetidos de confusão mental
Esses sinais podem indicar condições neurológicas graves e não devem ser atribuídos apenas ao calor.
(Com informações do iG)
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