Depressão: como identificar que crianças e adolescentes precisam de ajuda

 


A depressão é um quebra-cabeça biológico e emocional que ainda desafia a ciência. Sabe-se, no entanto, que ela está ligada a uma desregulação nos neurotransmissores —substâncias como serotonina, dopamina e noradrenalina, responsáveis por fazer os neurônios "conversarem". Quando essa comunicação falha, o resultado é uma queda na energia, no humor e na capacidade de sentir prazer.


Embora já existam formas de investigar essas modulações químicas, o diagnóstico clínico ainda depende da observação dos sintomas e das emoções do paciente. Crianças e adolescentes também podem ter depressão e identificar os sinais nem sempre é simples para os pais.


Sinais de alerta

A depressão não escolhe idade. Estima-se que cerca de 3% das crianças e até 10% dos adolescentes sofram com o transtorno. A ideia de que infância e juventude são fases livres de estresse e angústia é um mito: conflitos familiares, pressão escolar e mudanças hormonais também podem acionar o gatilho da doença.

Os sintomas clássicos — desinteresse por atividades antes prazerosas, alterações no sono e apetite, e tristeza persistente — aparecem em qualquer faixa etária, mas assumem formas diferentes conforme o desenvolvimento.


Nos pequenos de até 2 anos, o choro constante e sem motivo aparente, distúrbios do sono e expressão abatida são sinais de alerta - embora nessa faixa etária a depressão seja rara.


Entre 2 e 7 anos, a irritabilidade costuma dominar: birras intensas, reações explosivas com gritos e agressões e apatia podem indicar sofrimento emocional.


Já na faixa dos 7 aos 12, a depressão se manifesta com perda de rendimento escolar, problemas de comportamento e mudanças bruscas de humor.


Na adolescência, o quadro ganha nuances mais complexas. A oscilação de humor é típica da idade, mas, quando se soma a sentimentos de vazio, baixa autoestima, pensamentos sombrios —inclusive suicidas—, cansaço, isolamento e comportamento de risco —incluindo uso abusivo de drogas—, merece atenção. Mesmo momentos de alegria não excluem a possibilidade de depressão —o humor reativo é comum nessa fase e pode confundir pais e professores.

Mais do que temperamento

É importante distinguir traços de personalidade de sinais clínicos. Uma criança naturalmente impaciente não é necessariamente depressiva. O que acende o alerta é a mudança de padrão: quando alguém que antes era brincalhão passa a se irritar com facilidade ou perde o interesse pelo que gostava.


Outro indicador é o tempo de duração dos sintomas. Se o desânimo e as alterações persistirem por mais de duas semanas, é hora de procurar ajuda profissional. Psicólogos e psiquiatras infantis podem avaliar o quadro e identificar possíveis causas médicas associadas, como anemia ou outros transtornos psiquiátricos.


O que ajuda a proteger a saúde mental

Existem hábitos que reduzem o risco de depressão entre crianças e adolescentes,


Diálogo aberto: manter uma comunicação franca com os pais ou cuidadores é essencial. Quando o jovem sente que pode falar sobre suas angústias sem ser julgado, o risco de agravamento do quadro diminui. O tema suicídio, inclusive, não deve ser tabu. Isso reduz o risco de o ato se concretizar.

Educação emocional: ensinar desde cedo a reconhecer e nomear emoções ajuda na autopercepção e no pedido de ajuda quando necessário.

Atividade física: o sedentarismo está ligado ao aumento dos sintomas depressivos antes dos 18 anos. O movimento é um antidepressivo natural.

Sono de qualidade: manter horários regulares e evitar telas ao menos uma hora antes de dormir ajuda a evitar distúrbios do sono e reduzir o risco de sintomas depressivos.

Expressão artística e meditação: música, pintura e práticas de relaxamento estimulam o equilíbrio emocional.

Menos tempo de tela: o uso excessivo de eletrônicos está associado a maior risco de transtornos mentais -- limitar o tempo online é uma medida protetiva.

Onde buscar ajuda

Se houver sinais de sofrimento intenso ou pensamentos suicidas, é fundamental procurar atendimento especializado. O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio gratuito e confidencial pelo telefone 188 ou no site www.cvv.org.br, 24 horas por dia. Também é possível buscar os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade, que prestam suporte psicológico e psiquiátrico sem custo.

(Com informações do UOL)

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