VIXE! Inveja: um mal que se instala nas redes sociais, diz uma psicanalista

Inveja: um mal que se instala nas redes sociais

Naturalmente, as pessoas publicam nas redes sociais os detalhes de suas vidas que desejam mostrar aos outros. (Foto: Caroline Treigher)

Um fenômeno que tenho observado acompanhar o movimento de muitas pessoas nas redes sociais, é a inveja. Claro que a inveja é um sentimento bem antigo, presente desde que começamos a observar a vida alheia, ou seja: desde sempre. Entretanto, temos que reconhecer que nunca, em toda a história da Humanidade, foi tão fácil xeretar o que o outro faz. Basta fazer parte de uma rede social, como o Facebook. Ali, quer perguntemos ou não, todos dão notícia do que fazem. E como a maioria dá notícia de si mesmo, enfeita a boa nova como quer. Salvo alguns neuróticos carentes que postam até uma topada no pé, boa parte das pessoas publica revelações de uma vida feliz. Resultado? Inveja.
O que gera a inveja? A falta de aceitação daquilo que a vida oferece. Sem dúvida existem muitas experiências desagradáveis que, por vezes, se tornam esmagadoras. Mas elas não são uma constante. Porém, a pessoa que acredita merecer mais do que tem, costuma transformar pequenas coisas em catástrofes, encarando a vida como uma sequência interminável de perturbações. Na teoria da psicanalista Karen Horney, esta pessoa sofre de exigências neuróticas.
Exigências neuróticas acontecem quando o desejo de ser bem-sucedido é tão grande (também irreal) que, quando não satisfeito, o indivíduo experimenta uma frustração de injustiça, ofensa ou indignação. Ele se rebela até contra Deus, porque acha que não merecia aquilo, ignorando que milhares de pessoas enfrentam decepções semelhantes ou até piores.
Qualquer tarefa executada com sentimento de injustiça se torna complicada e cansativa. Então, um exigente neurótico leva a vida como um fardo e, ao notar os aspectos agradáveis das vidas de outros indivíduos, sofre duplamente: pelo que não tem e pelo que os outros têm. Nietzsche chamou de lebensneid (inveja da vida) este sentimento de ser o único excluído, que gera egocentrismo e a indiferença.
O invejoso acaba desenvolvendo uma espécie de crença de que os outros, que possuem mais do que ele, não precisam esperar nada dele próprio. Isola-se e nega ao mundo a qualidade de seu olhar generoso.
O descontentamento crônico e o foco na dificuldade e no faltante são o que verdadeiramente adoecem o invejoso, e não a felicidade alheia. Para curar-se desse mal, é fundamental a identificação das exigências neuróticas. Ele pensa que é realista, porque vê a dolorosa realidade que o cerca. Mas, na verdade, é um grande sonhador, que se agarra à crença infundada de que merece prerrogativas especiais. Abra o olho, quem quiser colocar os pés no chão: todo mundo sofre, até o sorridente do Facebook.
 Fonte: Tribuna do Ceará 






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