Você sabia? A difícil arte de se relacionar: é possível aprimorar-se nela!

A difícil arte de se relacionar: é possível aprimorar-se nela!

A TG possui a vantagem de trabalhar, ao mesmo tempo, o conhecimento de si mesmo e as relações interpessoais. (Foto: arquivo pessoal da autora)
É estranho que sendo o homem um animal social, seja tão difícil para ele o exercício de sua capacidade de relacionar-se. Uma das maiores fontes de infelicidade (e felicidade) da vida humana são os relacionamentos. Não apenas os relacionamentos amorosos, mas toda e qualquer relação com outra pessoa. Diferentemente das formigas, das abelhas e outros seres que se organizam socialmente, as relações humanas não são puramente instintuais e requerem um esforço que as demais dispensam.
O que é tão diferente no homem? Sua riqueza de pensamentos, sentimentos, emoções e tudo isso que compõe a sua psique. Entre uma pessoa e outra há uma distinção maior que a dos corpos: a distinção psicológica. Ninguém é igual a ninguém. Cada um tem não apenas a sua própria carga genética, as suas determinações biológicas, fisiológicas etc., mas também a sua história, a sua forma muito particular de ver o mundo e estar no mundo.
Entre nós e o mundo existe a interpretação, que passa pela percepção e pela consciência, que é interferida pela experiência. Assim, por exemplo, quando eu, Caroline, falo de maternidade, trago o meu falar permeado das minhas impressões relativas à maternagem, que vão da minha vivência única como filha às representações sociais de mãe no meio em que me desenvolvo. Então, quando me comunico com outra pessoa a respeito de ser mãe, não são apenas palavras que troco com ela, mas estas minhas impressões, que se manifestam como sensações físicas (taquicardia, ruborização) e emoções (tristeza, alegria ou raiva), que o outro não é capaz de perceber, e mesmo que perceba, jamais poderá compreender plenamente. Por quê? Porque ele tem as suas próprias impressões dentro do que podemos denominar “complexo materno”.
Por causa dessa complexidade do contato humano, a comunicação é marcada pelo desafio de compreender o outro. O desafio de não julgar. O desafio de aceitar, mesmo que não seja possível concordar. Porque tudo o que compreendemos de alguém com quem contatamos está “contaminado” por nós mesmos, por nosso eu, por quem nós somos. É o que se chama projeção. Isso é um fenômeno do qual não se pode escapar, uma vez que não somos máquinas, não somos tão neutros como algumas vezes gostaríamos de ser. Não tem como eu sair de mim mesma para observar o outro.
O resultado disso é que temos que nos conhecer melhor para melhor nos relacionar com nossos parentes, amigos, colegas e até inimigos. Para identificar nossas projeções e nos empatizar com quem precisamos dividir o dia-a-dia. Uma boa dica para quem deseja aprimorar a arte de relacionar-se são as terapias de grupo, chamadas TG. Esses espaços terapêuticos têm o poder de nos permitir experimentar relacionamentos com os diversos membros do grupo, na presença de um terapeuta, que poderá muitas vezes mediar os diálogos, clareando os detalhes ocultos dos contatos (aquilo que não é dito quando se fala com alguém). Aos poucos, cada participante aprende a se relacionar de uma forma mais consciente, autêntica e construtiva. E naturalmente expandirá esse modelo de relacionamento para além da TG, para os seus grupos de convivência diária.
Há uma incrível ignorância, ainda, sobre o que fazem as psicoterapias. Elas não são, como pensam muitos, um lugar de aconselhamento, onde um sábio apontará os melhores caminhos a seguir. São apenas facilitadores que resgatam nossa conexão conosco mesmos e nossa tendência natural ao desenvolvimento. Costumo dizer que as psicoterapias são uma forma de meditação do homem ocidental. Ele, que se acostumou a viver voltado para fora, volta-se para dentro, nelas, num movimento inverso. Enquanto sua cultura o convida a desbravar o mundo, sua tendência ao crescimento psicológico o desafia a desbravar a si mesmo. E por incrível que pareça, quem conhece a si mesmo está mais apto a conhecer verdadeiramente o próximo.

Fonte: Tribuna do Ceará




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