GERSON CAMAROTTI, O HOMEM QUE ENTREVISTOU O PAPA FRANCISCO, FALA DESTE GRANDE MOMENTO

Gerson Camarotti é comentarista político da Globo News, repórter especial de política do Jornal das Dez e titular do Blog do Camarotti, no G1. Este jornalista do Recife, formado pela Unicap com pós-graduação em ciência política pela UnB, está em Brasília desde 1996, onde passou pelas sucursais das revistas Veja e Época, e pelos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo e Correio Braziliense, e se tornou um dos grandes comentaristas de política da atualidade. Mas foi com seu trabalho sobre os bastidores da Igreja Católica, desde a sua formação, que Gerson conseguiu o grande furo de reportagem da sua vida esta semana: ele conseguiu entrevistar o Papa Francisco, um dos únicos jornalistas do mundo que conseguiu fazer perguntas para um sumo sacerdote. Em 2013, foi escalado pela Globo News para cobrir, em Roma, o conclave que elegeu o papa Francisco.
No livro “Segredos do Conclave”, que agora virou best-seller, o jornalista Gerson Camarotti, coautor de Memorial do Escândalo, conta os bastidores da eleição do papa Francisco e a operação do Vaticano para estancar a hemorragia de fiéis na América Latina, a partir de contato com o alto clero da Igreja Católica por mais de oito anos. Cobriu as eleições dos papas Bento XVI e Francisco. Na obra, o autor revela os verdadeiros conchavos políticos que foram necessários para chegar à escolha do Papa Francisco. O livro tem prefácio do escritor e imortal Ariano Suassuna. “Segredos do Conclave” narra as mudanças na cúria romana após a estarrecedora decisão do papa Bento XVI de renunciar ao seu pontificado. Isso não ocorria havia seis séculos. Esse gesto revolucionário abriria espaço para a realização de mudanças que o próprio papa não conseguiu fazer durante os oito anos que ficou à frente da Igreja, dividida por disputas de poder entre cardeais e desprestigiada por escândalos de pedofilia, pela crise envolvendo o Banco do Vaticano e pelo caso do mordomo do papa, que vazara documentos secretos da instituição mais antiga do planeta.
Após a renúncia de Bento XVI, a 28 de fevereiro de 2013, cardeais vindos de todo o mundo se reuniram em conclave, para eleger o novo sucessor de são Pedro. Fechados na Capela Sistina, sinalizaram um movimento de mudança, inédito na conservadora Igreja Católica. Já nas reuniões das congregações gerais, os purpurados cobravam transparência da cúria romana. Estavam assustados com o noticiário e queriam abrir a caixa-preta do Vaticano. Houve uma avaliação pragmática da Santa Sé: era preciso abrir uma nova interlocução com a Igreja na América Latina para tentar barrar a evasão de fiéis. O sinal vermelho acendeu em Roma quando se detectou que, na década de 1990, a evasão de fiéis chegou ao impressionante número de 1% da população ao ano só no Brasil, segundo dados do IBGE. Em uma década, isso significou uma fuga de cerca de 13 milhões de católicos. A maior parte desses fiéis migrou para denominações evangélicas, principalmente na periferia das grandes cidades. Era preciso reconquistar esses fiéis e, para isso, a Igreja tinha de estar reunificada.
Foi em meio a esse sentimento de mudança que surgiu com força a candidatura do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. A liderança de Bergoglio no episcopado da América Latina começou a aparecer já nos primeiros anos do pontificado de Bento XVI. Foi quando a Santa Sé iniciou uma ofensiva para estancar a hemorragia de fiéis no continente com o maior número de católicos no mundo e tentar manter o seu rebanho continental, estimado em 483 milhões na América Latina (41,3%) de um universo global de 1,2 bilhão de católicos.
Essa ação resultou na escolha do cardeal Bergoglio, eleito papa Francisco a 13 de março. A eleição do argentino também surpreendeu o mundo. Foram três ineditismos de uma só vez: o primeiro papa da América Latina; o primeiro papa jesuíta; e o primeiro papa a adotar o nome de são Francisco de Assis. Foi um sinal explícito de que o Vaticano iniciaria um período de reformas. Jamais a Santa Sé seria a mesma depois daqueles dias surpreendentes, entre fevereiro e março de 2013. E Camarotti estava lá desde o começo para contar todos os pormenores dessa história.

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