CERVEJA COM MODERAÇÃO FAZ BEM AO CORAÇÃO, SEGUNDO PESQUISA

Lina Badimón, diretora do Centro de Pesquisa Cardiovascular de Barcelona, veio ao Brasil pela primeira vez para participar do 34º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, onde apresentou o estudo realizado publicado no ano passado sobre os efeitos protetores da cerveja no sistema cardiovascular. O estudo mostrou que o consumo moderado de cerveja é capaz de reduzir a cicatriz no coração provocada por um infarto agudo do miocárdio. Em entrevista ao GLOBO, Lina explicou que até as versões sem álcool causam os benefícios ao coração.
Lina Badimón: No nosso estudo, investigamos os efeitos daquilo que consideramos um consumo moderado, o que entendemos como 30 gramas de álcool por dia, no máximo. Isso equivale a três cervejas para homens e duas para mulheres. Mas apenas para adultos. Adolescentes e grávidas não devem tomar álcool.
O GLOBO: Qual é a exata substância encontrada na bebida que causa o benefício apontado na pesquisa?
Lina Badimón: Esta é uma boa pergunta. Inicialmente, há alguns efeitos que estão associados com a fermentação alcoólica. Mas há outra parte que está associada com a quantidade de antioxidantes contida na bebida, porque comparamos os efeitos da cerveja tradicional coma cerveja sem álcool, e vimos benefícios à saúde nas duas versões.
O GLOBO: Tais benefícios à saúde também ocorrem em pessoas sedentárias?
Lina Badimón: Não formulamos as perguntas do nosso estudo de acordo com o nível de exercícios físicos, então não há como responder. Mas com base em outros trabalhos na literatura científica , podemos dizer que os benefícios dos antioxidantes na dieta se acumulam com os exercícios. Então, se a pessoa pratica exercícios, é bem melhor.
O GLOBO: Se não é o álcool tão somente que gera os benefícios apontados pela pesquisa, pessoas que não gostam de álcool ou simplesmente não podem ingeri-lo podem ter as mesmas vantagens de outra forma?
Lina Badimón: A cerveja não alcoólica, como disse, também é benéfica, e provavelmente outras bebidas produzidas a partir da fermentação de componentes naturais, como o vinho, podem causar benefícios semelhantes.
O GLOBO: Sei que a senhora já está produzindo novos estudos. Conte-me um pouco sobre eles.
Lina Badimón: Semana passada, por exemplo, estava em um encontro na Espanha, um congresso anual sobre esclerose. Estamos apresentando informações sobre os efeitos do consumo da cerveja na disfunção endotelial. as células endoteliais são importantes na regulação do desenvolvimento da esclerose e temos visto que a função endotelial é preservada tanto pela cerveja tradicional quanto pela versão não alcoólica. Este é um segundo estudo que estamos desenvolvendo e agora estamos usando informações do genoma humano para saber quais genes que são regulados (pela bebida).
O GLOBO: A senhora acha que, num futuro próximo, uma vez que se consiga identificar as exatas substâncias da cerveja que causam os benefícios à saúde, ela pode ser transformada em uma pílula, por exemplo?
Lina Badimón: Esta não é uma meta para nosso estudo, mas é algo que pode ser extraído dele. A informação disponível até agora não é lá muito boa. Quando as vitaminas E ou C são ingeridas em comprimidos, elas não têm o mesmo efeito quando se come um alimento rico nestas vitaminas. Há uma discrepância entre ingerir um alimento rico em antioxidantes para ter os efeitos da substância e tomar uma pílula. Vemos então que existe uma transição (entre a composição natural e a forma em pílula) que ainda não sabemos como lidar.


Fonte: Jornal O Globo

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