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| Mainna e Jayne (Esquerda) advinda de cursinho popular passaram em medicina na UFC, curso mais concorrido do SISU |
O riso frouxo das meninas e o tom alegre na voz já antecipavam a descrição do bom momento vivido pouco antes. E anunciavam o sonho que deve se concretizar, de fato, daqui a três meses. Mainna Souza Cavalcante, 20; e Jayne Maria Bernardo dos Santos, 19, acabavam de se matricular no curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, um dos mais concorridos do País.
As duas jovens concluíram o ensino médio em escolas públicas. Mainna no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e Jayne no Liceu do Conjunto Ceará. No fim do 3º ano, não conseguiram passar no vestibular. Mainna sonhava ser engenheira eletricista. E Jayne nem lembra, “porque não sabia muito o que fazer”. Apesar das incertezas e tentativas que não deram certo, as duas não desistiram de ingressar na universidade. Mesmo sem condições de pagar um cursinho preparatório particular.
Surgiu então a oportunidade de estudo no cursinho popular XII de Maio, projeto de extensão do curso de Medicina da UFC. Em Fortaleza, apoiados por algumas instituições ou por voluntários, cursinhos do tipo - gratuitos ou com baixíssimo custo - são um incentivo para quem quer chegar à universidade e não consegue pagar um curso preparatório particular. Neste mês de janeiro, as inscrições estão abertas para novas turmas. O foco é a preparação de estudantes de escolas públicas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), usado como forma de ingresso pela UFC e pelo IFCE.
Alguns cursos também preparam para o vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece). É o caso do UeceVest, que funciona na própria universidade. “Para mim, é uma oportunidade excepcional ver esses alunos tendo a chance de ter ensino de qualidade. Muitas vezes, falta autoestima para o aluno que vem da escola pública. Alguém que diga que ele é capaz. Tem a deficiência de conteúdo, mas de autoestima também”, citou o coordenador administrativo do curso XII de Maio, Thiago Rodrigues, que também foi estudante de escola pública e passou pelo cursinho popular.
Para Elmo Santana, coordenador do projeto VemSer, cursinho de baixo custo para estudantes de escolas públicas da região do grande Mondubim, o pré-universitário popular é também um auxílio para quem não se acha preparado. “Ajudamos com os conteúdos e tentamos resgatar a confiança também”, cita Elmo.
Além das aulas e do auxílio do cursinho, é preciso muito esforço e dedicação para chegar à universidade. Para Mainna e Jayne, o dia inteiro era de estudo na biblioteca de Ciências da Saúde da UFC. À noite, elas seguiam para as aulas, que aconteciam também aos sábados, domingos e feriados. As dificuldades se faziam presentes. Jayne, por exemplo, quase desistiu do curso, por não ter como pagar a mensalidade de R$ 67. Mas perseverou e conseguiu uma bolsa. “Você não pode se acomodar. É importante os alunos perceberem que não importa de que colégio venham, é possível conquistar o seu sonho”, incentiva Mainna.
Este mês, cursinhos populares de Fortaleza estão com inscrições abertas. Com aulas gratuitas ou de baixíssimo custo, eles ajudam quem busca ingressar na universidade, mas não tem condições de investir em cursos particulares.
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